yasmin nigri

YASMIN NIGRI

RUA DE ONTEM / YESTERDAY’S STREET

YESTERDAY’S STREET

We were watching Antichrist in bed eating chocolate cake
while you rubbed my belly at a time
when our union already seemed so impossible

how did you look at me when we still saw each other?

One two several waves of anger destroyed you your hands the dishes
caged lion I defended your spectacle to the stunned crowd

I slapped you in the face
to be honest I slapped you in the face a few times
looking like a slut in your hooker hoops

The motel when we were eighteen went something like: wearing white robes that swallowed us
up, ordering spaghetti with shrimp or carefully pairing that white corset with knee socks and
mary janes

how did you look at me when we still saw each other?

At that party where we dropped acid the first time
we jumped on the grass all night long
you know how my mom pisses me off but I let her be
we didn’t even have enough money to pay
we got half your books together
and sold them secondhand

On Saturdays I cooked while you played GTA
I don’t need friends I have you
and we let the dishes pile in the sink

Sometimes you’d bring me a red rose
hidden behind your back
bouquets, you’d read, were home decor

Based on the passage above, choose the correct option(s): a) the housewife is not the focus; b)
self-help books aren’t literature; c) a bouquet isn’t a flower; d) chivalry can exist only in a deeply
misogynist society

On the weekends we made
love on Copacabana beach
on the wrecked ship you sacrificed your family and saved me
duas contra o mundo

You can’t leave without me
I’m trying to get better
One thing at a time
Relax!

fighting in public
fighting at home
cursing left and right
fin

it was all a landslide because love is a landslide and it’s hard to see what’s left in

the ruins to emerge from the ruins to feel the ground again the ground is hard the suspense is
always
delicious growth isn’t always a good thing take this you don’t have to but if you’re gonna
take something away from all of this take this knowing that you’re yelling at your new girlfriend
listening
take this and shove it up your ass twice it’s over you know love can’t be this conniving it’s not
enough liberal
feminism is not enough apologies are not enough it’s all the same shit

Es bleibt uns die Straße von gestern

RUA DE ONTEM

A gente assistia Anticristo na cama comendo pastel de chocolate
enquanto você me acariciava a barriga
naquele tempo já parecia tão difícil a união

como era mesmo que você me olhava quando a gente ainda se via?

Uma duas várias ondas de raiva te destruíam as mãos e a louça
leão enjaulado eu defendia seu show à plateia estupefata

Meti a mão na sua cara
verdade seja dita eu meti a mão na sua cara algumas vezes
você fica parecendo uma vagabunda com essas argolas de solteira

O motel aos dezoito era mais ou menos: vestir roupões brancos que engoliam a gente, pedir
macarrão com camarões ou escolher com esmero aquele corpete branco com meias ¾ e um salto
Melissa

como era mesmo que você me olhava quando a gente ainda se via?

Na festa em que tomamos LSD pela primeira vez
pulamos a noite inteira na grama
você sabe como minha mãe me irrita mas eu não empurrei ela
nem dinheiro tínhamos pra pagar
juntamos metade dos seus livros
e vendemos no sebo

Aos sábados eu cozinhava enquanto você jogava GTA
eu não preciso de amigos eu tenho você
e largávamos tudo sujo na pia

Às vezes me levava uma rosa vermelha
escondida nas costas
o buquê, você leu, era enfeite pra casa

Com base no trecho acima marque a(s) alternativa(s) correta(s): a) dona de casa não é sujeito; b)
livro de autoajuda não é literatura; c) buquê não é flor; d) só pode existir cavalheirismo em uma
sociedade profundamente machista

Aos finais de semana fazíamos
amor na praia de Copacabana
no barco náufrago você sacrificava sua família e me salvava
two against the world

Não pode sair sem mim
Eu tô tentando melhorar
Uma coisa de cada vez
Calma!

brigando fora de casa
brigando dentro de casa
xingando aqui e acolá
fim

foi tudo um sobressalto porque o amor é um sobressalto e fica difícil de enxergar o que tá por
trás
desse salto descer desse salto pisar no chão novamente o chão é duro a suspensão é sempre
deliciosa crescer nem sempre é uma coisa boa guarda isso você não vai precisar mas se for pra
guardar algo de tudo guarda isso saber que você anda gritando com a sua namorada nova escutar
vai tomar no seu cu duas vezes acabou tudo sabe amor não pode ser conivente assim não basta o
feminismo liberal não basta desculpas não bastam arrastam a corrente eterna

Es bleibt uns die Straße von gestern

—translated by greice holleran

ENQUANTO ASSISTO SOBRE A SILENCIADA HISTÓRIA DO GENOCÍDIO ARMENO / WHILE I WATCH THE SILENCED HISTORY OF THE ARMENIAN GENOCIDE

WHILE I WATCH THE SILENCED HISTORY OF THE ARMENIAN GENOCIDE

how could
this understanding
get disrupted
to be something
intelligible

i tell you
i don’t know
there is more
between the night
without measure
and the knives
in the kitchen

the spectrum of love
inhabits the subtle path
unbearable

but easier to ride
a hard dick
than this disrupted
understanding

i tell you
i don’t know
to mitigate your pain
i do not want to repair
the brittle man

eyes in the eyes
of your wound
trust
that
the caesura
of life
doesn’t delay
in failing

i learn your alphabet

attentive

i guard your solitude

i don’t know what to do

shelter the dawn
while i await
your unforeseeable

arrival

ENQUANTO ASSISTO SOBRE A SILENCIADA HISTÓRIA DO GENOCÍDIO ARMENO

como poderia
esse entendimento
transtornado
ser algo
inteligível

eu te digo
não sei
há mais
entre a noite
sem medida
e as facas
na cozinha

espio rente a sua inquietude

o espectro do amor
habita a senda sutil
insuportável

mais fácil cavalgar
um pau duro
do que esse entendimento
transtornado

eu te digo
não sei
mitigar sua dor
não quero
reparar o homem
quebradiço

olhos nos olhos
da sua ferida
confia
que
a cesura
da vida
não tarda
em falhar

aprendo seu alfabeto

atenta
guardo sua solidão

não sei mais o que fazer

abrigo a aurora
enquanto aguardo
sua chegada

imprevisível

—translated by sean negus
Yasmin Nigri was born in Rio de Janeiro, in 1990. A poet, visual artist and essayist, she graduated in philosophy from the University of Federal Fluminense (2013) and, at the same university, completed a master’s degree in Aesthetics and Philosophy of Art (2017). She is co-founder and member of the arts collective, Disk Musa, and contributor to Revista Caliban. She has been dedicated to poetry since 2015, having been published in several magazines in Brazil and Portugal. Her first participation in a book was in the anthology 50 poems of revolt (Companhia das Letras, 2017). Anvils is her debut book.
Greice Holleran is a poet, translator, and fascist-hunter. Her translations have appeared in Barricade Journal and Saccades. She is a PhD student in the Department of Portuguese at the University of Massachusetts-Dartmouth.