SÉRGIO MEDEIROS
CALIGRAFIAS E CALIGRAMAS / CALLIGRAPHIES AND CALLIGRAMS
de (from) Caligrafias Ameríndias
No livro Caligrafias Ameríndias (Editora Medusa) faço o elogio da prosopopeia, ao dar voz — e sobretudo escrita — às palmeiras míticas de Pindorama, que “refletem” sobre a origem e o fim do Brasil. Portanto, é a caligrafia das palmas que o leitor verá/lerá nestas páginas, cobertas na sua quase totalidade por uma poesia gráfica que se inspira na escrita imaginária de Jerônimo Tsawé, grande artista xavante que homenageei em meu livro anterior, Trio Pagão (Iluminuras, 2018).
In the book Caligrafias Ameríndias / Amerindian Calligraphies (Editora Medusa) I eulogize prosopopeia, giving voice to — and especially writing — to the mythical palm trees of Pindorama, who “reflect” on the origin and the end of Brazil. Therefore, it is the calligraphy of the palms that the reader sees/reads in these pages, covered almost entirely by a graphic poetry that is inspired by the imaginary writing of Jerônimo Tsawé, a great Xavante artist who I honored in my previous book, Trio Pagão (Iluminuras, 2018).
de (from) Os Caminhos e o Rio
— depois que o helicóptero passa escuro indo para o sul
um bando de pássaros de asas fechadas se lança do oeste
como balas sobre o jardim
— then the helicopter passes darkly going south
a band of closed-winged birds launch from the west
like bullets above the garden
No livro Os Caminhos e o Rio (Editora Iluminuras), que está dividido em duas seções, os meus poemas imagéticos (pequenos descritos em prosa) são inseridos, na seção propriamente visual, em diversos caligramas coloridos; assim, os seres e as coisas do Brasil, que a minha poesia costuma registrar, passam a deslizar de repente por um ou dois rios europeus (o de Mallarmé e o de Apollinaire, pais modernos da poesia visual contemporânea), que são, nesse livro, também árvores cobertas de lianas, cipós e trepadeiras. Ou seja, a caligrafia vegetal, que é o tema de Caligrafias Ameríndias, também reaparece em Os Caminhos e o Rio, sobretudo como seiva colorida que ascende pela árvore-rio, nas páginas exclusivamente dedicadas aos caligramas.
The book Os Caminhos e o Rio / The Roads and the River (Editora Iluminuras) is divided in two sections, my image-poems (with little descriptions in prose) are included, in the proper visual section, in diverse colorful calligrams; thus, the beings and the things of Brazil, that my poetry usually addresses, suddenly pass by one or two European rivers (one from Mallarmé and one from Apollinaire, modernist fathers of contemporary visual poetry), that are, in this book, also trees covered by lianas, vines and creepers. That is, plant calligraphy, which is the theme of Amerindian Calligraphy, also reappears in Os Caminhos and Rio, especially as a colored sap that ascends the tree-river, in pages exclusively dedicated to calligrams.
Atribuo todos os poemas dos dois livros agora lançados a um personagem que chamo de Jardineiro Do(u)do, ou simplesmente Doudo, em bom português. Pois entendo que esse jardineiro (que já frequentou outros livros meus) percebe, como os gregos e como Roland Barthes, que as árvores são alfabetos* e que a caligrafia, num sentido lato (ou poético), nada mais é do que seiva fluindo, tronco ereto, galhos dispersos…
I attributed all of the poems of both books now released to a person that is called Jardineiro Do(u)do, or simply Doudo, in good Portuguese. Because I understand that this garden (that I have already frequented in other books of mine) perceived, like the Greeks and like Roland Barthes, that say the trees are alphabets and that the calligraphy, in a broad sense (or poetic), flowing sap, upright trunk, scattered branches…
A prosopopeia, em suma, sobretudo aquela que permite que todos os seres escrevam e não apenas falem, é cultivada em Caligrafias Ameríndias e Os Caminhos e o Rio.
Prosopopeia, in sum, is that which especially permits all beings to write and not only speak, is cultivated in Caligrafias Ameríndias e Os Caminhos e o Rio.
Sérgio Medeiros
Maio de 2019
May 2019
*“As árvores são alfabetos, diziam os gregos. Dentre todas as árvores-letras, a palmeira é a mais bela. Da escritura, profusa e distinta como o repuxo de suas palmas, ela possui o efeito maior: a inflexão.”
*”The trees are alphabets, says the Greeks. Of all of the tree-letters, the palm tree is most beautiful. From writing, profuse and distinct as the fountain of her palms, it has the greatest effect: the inflection.”
de (from) Friso de Caligrafia