NATASHA FELIX & LAÍS REIS
FERRAMENTOS DA QUEDA / TOOLS FOR THE FALL
TOOLS FOR THE FALL (by natasha felix)
: CAETANO ROMÃO :
I endure the fall
I didn’t attend those bullfights
but if I were there — I would be
willfully aimed and easily
targeted
be prepared to beat me to keep the shortcuts
they clap at burning clothes a report of these trips
who then collects punches on the brow
Hard on the fall
i washed my hands and my shirt when my name was the subject.
tried to rehearse a fatality
one that was close to the neck
to rock the beast in its bravery
in its probable beginning
because I know that what i want is there curved in the forehead
has a disloyal look at the ground.
: NATASHA FELIX :
i would teach you to run my breasts like they like to be run.
i would make myself didactic. would make an exception.
would show you how my hair needs to be grabbed.
would be patient. would waste my time.
i would guide you while you lose yourself without realizing it.
you are a bullfighter who hesitated for a second.
you did not escape.
we know what happens to the distracted.
now it is taking the horn that violently crosses your hand.
what you have left is to welcome the metallic taste in your mouth.
to salivate well.
the pain chose you this time.
lick the blood, suck your fingers.
do not call me love.
FERRAMENTAS DA QUEDA (por natasha felix)
: CAETANO ROMÃO :
Duro na queda
Não compareci àquelas touradas
mas se ali estivesse — e eu estaria
seria de bom grado mira e alvo
fácil
me dispor a surras para cumprir os atalhos
aplaudem à queima roupa a notícia desses tropeços
quem arrecada golpes com a testa
Duro na queda
lavei as mãos e a camisa quando o assunto era meu nome.
tentava ensaiar uma fatalidade
uma que fosse possível rente ao colo
embalar o bicho na sua braveza
no seu começo provável
pois sei que o que quer que haja de curvado na fronte
tem uma mirada desleal ao chão.
: NATASHA FELIX :
te ensinaria a correr os meus peitos como eles gostam de ser corridos.
me faria didática. abriria uma exceção.
te mostraria como meus cabelos precisam ser agarrados.
seria paciente. desperdiçaria meu tempo.
te guiaria enquanto você se perde sem perceber.
você é um toureiro que vacilou por um segundo.
não escapou.
nós sabemos o que acontece aos distraídos.
agora é aceitar o chifre atravessar a sua mão violentamente.
o que te resta é acolher o gosto metálico na boca.
salivar bem.
a dor te escolheu dessa vez.
lamba o sangue, chupe os dedos.
não me chame de amor.
do not call me love.
—translated by sean negus
NATASHA FELIX & CHAOS
CONSIDERAÇÕES SOBRE A HIGIENE ÍNTIMA / ON PERSONAL HYGIENE
ON PERSONAL HYGIENE (by natasha felix)
nobody I ever knew had a clean head
and the few I knew
who maybe did
were not as great as they thought
I’ve always preferred heads crawling with creatures
(scandals stretching from ear to ear)
those who break cups
who can tell a mistake
take the mistake for themselves
grasp the toothbrush gargle
don’t spit
a perfect witness to the perfect crime
those who know the mistake
make me trust them
(recognize those without a clean
head feed them, be kind to them)
I looked at the bath mat now fearless
a whole ecosystem there.
who would believe it?
mites mold wine stains
my knees on it
remember?
elbows on the toilet your
tongue
between the o’s of my ass
we laughed like two goats
it was a holiday or something
you were late to a party or something
the portuguese tiles or something
who would believe it?
the end of the world there among
miniscule creatures reminders
impossible stains
there, right there
mites mold wine stains
nobody I ever knew had a clean head
I get out of the shower dirtier and dirtier
dirtier and dirtier
I think forgetting is easy and so I forget
mites mold wine stains
my knees on it
tiles, toilet, your tongue
mites mold nobody I ever knew
nobody I ever knew had a clean head
mites mold wine stains
look, you might even be a righteous man
I’m the one who isn’t righteous
CONSIDERAÇÕES SOBRE A HIGIENE ÍNTIMA (por natasha felix)
nunca conheci quem tivesse cabeça limpa
aliás os poucos que conheci
e talvez tivessem cabeça limpa
prestavam menos do que suspeitavam
sempre preferi aqueles cheios de bichos
escândalos baldeando de orelha a orelha
quem quebra copos
quem sabe o erro
toma para si o erro
segura escova gargareja
não cospe
testemunha perfeita do crime perfeito
quem sabe o erro assim
me inspira muita confiança mesmo
(reconhecer quem não tem cabeça limpa
alimentá-los, ser boa para eles)
olhei o tapete do banheiro sem medo dessa vez
todo um ecossistema lá
quem acreditaria?
ácaros mofo manchas de vinho
os meus joelhos nele
lembra?
os cotovelos no vaso sanitário a sua
língua entre as bandas da minha bunda
a gente ria feito duas cabras
era feriado ou algo assim
você atrasado pra uma festa ou algo assim
o azulejo português ou algo assim
quem acreditaria?
o fim do mundo ali vivendo entre
animaizinhos minúsculos lembretes
manchas impossíveis
lá bem ali
ácaro, mofo, manchas de vinho
eu nunca conheci quem tivesse cabeça limpa
eu saio do banheiro cada vez mais suja
cada vez mais suja
penso que esquecer é fácil, então eu esqueço.
ácaro, mofo, manchas de vinho
os meus joelhos nele
azulejos, o vazo sanitário, a sua língua
ácaro, mofo, eu nunca conheci
eu nunca conheci quem tivesse cabeça limpa
ácaro, mofo, manchas de vinho
olha, você pode até ser um homem piedoso
só eu não sou piedosa.