CESAR VENEZIANI
PEQUENOS SONS DE OUTONO
A folha que, já seca, o impulso sente
e estala e solta e salta e voa ao vento,
de um mês de abril que teima e ainda é quente,
se junta às outras folhas no cimento
em roda de ciranda, docemente,
e brinca, pula, dança, é sentimento,
e faz um quase guizo diferente
do grito de ser livre no momento…
E o galho que, desnudo, resistiu,
agora sem a folha desgarrada,
emite ao vento um longo assobio,
pungente, de uma voz desconsolada
anunciando o tempo à frente, o frio,
seu único parceiro, só, mais nada…
SWEET AUTUMN SOUNDS
The leaf, already dry, which felt the prod
and whips, and cracks and flies along the wind
of stubborn April daring to be hot,
is by the others on the pavement pinned
in ring-around-the-rosies, sweet and soft,
it leaps, it plays and dances, such a fling,
and sounds an almost rattle weird and odd
so different from the freedom longing scream
At last the naked branch, which had been bold,
does not hold any leaves it held before
and leaves a whistle to the winds foretold,
a writhing whistle of a voice so sore
announcing winter coming and its cold
to be his only partner, nothing more…
TRAÇO
peço
quando faço
do meu traço
um verso
que nasça
do som que passa
e que a pena
apenas grafa
a graça
que o belo
– elo após elo –
em letras disfarça
TRACE
I beg
when I make
up my trace
for a verse
to resound
from the passing sound
and for the pen
to write with haste
the grace
that beauty
– tie after tie –
in letters disguises
ETERNA ESPERA
Sou eterna espera…
Mendigo que estende a mão
mecanicamente
ao transeunte indiferente.
Cão que olha triste
o pão na mão da gente.
Planta que espera a chuva,
rosto que espera a ruga,
fé que espera a graça
enquanto o tempo passa…
E o celular não toca,
E o ícone não pipoca na tela.
E nada dela…
ETERNAL WAIT
I am eternal wait
a beggar with stretched out hand
mechanically
to the indifferent passerby.
A saddened dog gazing
a bread on our spread hand,
a face waiting for the wrinkle
faith waiting for grace
while time races…
And the cellphone doesn’t ring
the icon doesn’t pop on the screen.
To be nowhere, she seems…
TRADIÇÃO X MODERNIDADE
Sem ordem e sem regra tudo é caos,
É o que a tradição bem nos ensina.
É ela que separa os bons dos maus,
Que faz uma mulher de uma menina.
Pois quem, fora das regras, se acha o tal,
Porque a arte e a força ele domina,
Terá pra si a solidão eterna.
Que volte então, feliz, para a caverna!
o livre
vive e flana
cria e crê
se basta
e afasta
aquilo
que não cabe
mas sabe
a regra
prende
isola e tolhe
escolhe
a trilha e vai
se cai levanta
e tenta e tenta
Sou livre e lavro aqui o meu protesto!
A regra me permite a vida plena,
E a plenitude é a ação à qual me presto.
Se acho bela a corte à deusa Atena,
Copio a ação e crio assim tal gesto
E a imagem se renova em nova cena.
E quem não dá valor à tradição,
Que volte a andar de quatro pelo chão!
não trago
Atena
à tona
é vago
prefiro
o passo do pé
que firo
no piso
não pisado
que tê-lo
atrofiado
no zelo
do não tentado
TRADITION X MODERNITY
If there’s no rule and order there’s no law
Is what tradition lets to us unfurl
It is what sets what’s good from what is foul
And makes a woman out of little girls.
Who thinks outside the rules to rule it all,
because of craft and force they have a hold
will have naught but the loneliest of the graves
May they go back, then, joyfully to their cave!
what is free
lives and fleets
creates and believes
is enough
and sets back
that
which doesn’t fit
but knows
the prison
of the rule
isolates and stunts
chooses
the track and goes
if it falls it rises
and tries and tries
I’m free and here I’m filing my complaint!
the rule is what allows me to have balance
and plenitude is what I find most quaint,
If I find to be fine the court of Pallas
I copy action, gestures, thus, I paint
the image is made new in newer valance.
The one who sees tradition and feels bored
may crawl back to the floor and walk on fours!
I don’t bring
Pallas
about
that’s vague
I’d rather have
the step of the foot
I harm
on never trodden
floors
than having it
withered
with the zeal
of what was never tried